domingo, 12 de março de 2017

Sobre a Manipulação

"Para aqueles galgando rumo ao topo da cadeia alimentar, não pode haver misericórdia. Há apenas uma regra: caçar ou ser caçado." - Frank Underwood (House of Cards)


Apesar de ser apenas um personagem de uma série, Frank exemplifica bem o ponto de vista político dos que estão no poder.

Não há preocupação com o povo senão com alguma reação exacerbada que lhes fujam ao controle e lhes custem caro, pois custa muito ao povo reagir, o que dá à esses sujeitos no poder ampla margem de ação e abuso.

Logo, para a maioria dos sujeitos nas "altas cúpulas", é principalmente uma questão de poder, sendo a ideologia apenas mais um instrumento para a manipulação.

Então pouco importa sua condição social, cor ou crença, você é apenas mais uma pecinha no jogo...Aliás, sua condição social, cor ou crença apenas importam no ponto ao qual você pode ser útil ou para te afastar, e justamente no afastar é o ponto em que quero abordar aqui.

Tendo em vista os movimentos sociais de esquerda atuais nota-se com certa evidência que eles NÃO ESTÃO SABENDO "JOGAR" O JOGO POLÍTICO e, evidentemente, estão tomando uma surra! Vê-se muita autocrítica dos apaixonados pelos ideais de plantão, mas nenhuma conversa real com o povo despolitizado.

Preferem condenar, apontar dedos e gritar palavras de ordem à torto e direito colocando-os no mesmo balaio dos reacionários, por exemplo, e se esquecem da complexidade do meio dessas mesmas pessoas (saliento que não me refiro à extremos, mas sim dos que estão na indiferente zona cinzenta da maioria das pessoas), usam uma imagem extrema e aplicam ao todo num "combate".

Essa atitude infantil, é um prato cheio para caçadores como Frank, ao ponto de deixar os anseios do povo como simples pano de fundo, pois pouco importa o debate do local de fala, o que importa é que ao gritar palavras de ordem como "homem, cis, branco, hétero" com dedo em riste na cara de um cidadão despolitizado que não da a mínima para a política, ela acaba por afastar esse mesmo cidadão da autocrítica, da busca pelo saber e, ainda por cima, cria uma aversão ao tema que VAI ser replicado para mais pessoas no seu círculo social. E o que é mais produtivo para os interesses dos dominadores senão a rejeição do povo pelo pensamento crítico?

Chego a questionar a legitimidade de muitos movimentos que acabam por ficar reclusos dentro do ambiente acadêmico e da militância, mas evitam ter uma conversa franca com pessoas despolitizadas ou que não querem saber de política, não flertam com os anseios pessoais de cada pessoa, não usam os pensamentos pré-existentes para, a partir daí, criar INTERESSE no sujeito.

Conversar com pessoas que não se interessam tanto por ideologias ou elucubrações filosóficas ou sociológicas criando o interesse nelas por esses assuntos não é difícil, basta não ser um poço de chatice extrema! Basta tornar-lhes os assunto palpável e não ficar todo orgulhoso de si tentando "quebrar" idéias e hábitos, que ela nunca parou para pensar, de uma vez.

Todas as pessoas tem seus próprios anseios e ideias, sendo que muitas vezes a própria imagem e sentimento de pertencimento tem um papel essencial em suas vidas. Dado isso o que deve fazer o "militante"? Dar uma paulada em tudo isso, falar que ta errado vomitando meia dúzia de autores que ela nunca vai ler na vida e urinar na autoimagem da pessoa? Tudo isso para que? Autoadulação?

Conversas francas ou diálogos construtivos são justamente o oposto do que vejo sendo feito (e usado como munição para insuflar o ódio à esquerda cada vez mais comum), é chegar em pessoas próximas e conhecidas e conversar com exemplos do cotidiano DELA, lidando com os pensamentos DELA e conversando nos tons DELA, para ELA entender como pessoa, assimilar o que foi conversado pra si e assim replicar com as palavras dentro do próprio círculo. O embate é apenas para extremos, para sujeitos histéricos interessados ativamente pelo oposto e que contribuem ativamente para a injustiça social.

O conservadorismo e outros movimentos ignorantes ganham cada vez mais força, não só graças à apatia da esquerda, mas também graças às contribuições muito ativas de segmentos da esquerda que afastam os cidadãos comuns da autocrítica.

Todos conhecem essas pessoas desinteressadas ou que tem pouco interesse por política, mas que são ignoradas na autorreflexão e método de abordagem, mas são elas as mais importantes às causas sociais, são elas que podem fazer coro, não necessariamente em passeatas e protestos, mas sim nas rodas de conversa e círculos sociais que são praticamente ignorados.

A imagem de quem lê e se dedica ao estudo social é a de um chato, um recluso ou orgulhoso e isso TEM que mudar, chega de sentar num trono de livros e olhar os outros de cima para baixo, chega da observar o mundo de cima de um pedestal de pedância e autoadulação, dialogar com quem é próximo e saber como dialogar é o básico da interação social, não é necessário ter expertise nisso, basta ter amigos durante a vida e justamente essa conversa e modo de conversar são relegados ao esquecimento...Por que? É porque não tem brio nisso? Porque é muito comum para alteza da pretensa sapiência que exclama contra reacionários, mas exclui pessoas da mesma forma?

Lembrem-se que a mão amiga é mais atraente do que a crítica ríspida!

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