quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

A Caverna

"O conhecimento é em si mesmo um poder" - Francis Bacon
A Alegoria da Caverna que Platão no livro A Republica (ao qual recomendo muito a leitura), explica muito bem a dificuldade de quem decidiu questionar, entender e estudar a sociedade, seja ela como um todo ou temas em específico que aparecem na mídia ou no nosso cotidiano.

A alegoria é proposta por Sócrates à Glauco e conta sobre pessoas acorrentadas no fundo de uma caverna onde só conseguem ver sombras projetadas por estátuas à frente de uma fogueira. A realidade dessas pessoas, sua visão de mundo, se resume à estas sombras, até que uma destas pessoas é levada para fora da caverna e, após sua visão se adaptar à luz do lado de fora, conhece o mundo externo e as "verdades", incluindo a ilusão da fogueira e, por consequência, a ilusão de dentro da caverna.

O sujeito, então, volta à caverna para contar à seus companheiros de caverna sobre o mundo lá fora e o quão ilusórias são as sombras projetadas. Tudo para ser ridicularizado, e até ter sua vida ameaçada, pelos antigos companheiros da caverna.

Esta alegoria, com as devidas adaptações, ainda é muito bem aplicável à nossa atualidade. Afinal, basta dar uma volta nas redes sociais e até comentários de notícias e posts (até mesmo aqui um dia desses haha) para ver o emprego das palavras "academicismo" ou "academicista" usados de forma crítica e, muitas vezes, pejorativamente.

Você pode perguntar - "Estudar agora é errado?Desde quando?" -  bem meu caro, errado não é e nunca vai ser, proibido já o foi (por muitas vezes e ouso dizer que ainda o será várias vezes no futuro), mas não é errado. O estudo é sim reprovado por muitos que não estudam, talvez por preguiça somada o sentimento de obrigação social que os deixam desconfortáveis pela sua inércia(é um conjunto de fatores ,eu sei, mas deixo mina cutucada aqui haha) e essa reprovação não é nova, afinal vocês podem lembrar do termo "nerd" aplicado pejorativamente não?

Ouso dizer que o "academicista" é o novo "nerd", é aplicado à pessoa que almeja estar fora da caverna, que quebrou alguma correntes e já se desvencilhou de algumas ilusões e que tenta guiar outros à pisarem nos caminhos que já trilhou enquanto recebe ajuda de outros que já trilharam uma boa parte do caminho à saída da caverna.

Boa parte dos que trilham esse caminho, escolhem muitas vezes calar-se pelo medo natural de errar e os que escolhem ajudar o próximo, o fazem reconhecendo a condição natural do erro e que a invalidação de uma ideia não, necessariamente, significa a invalidação de toda sua sabedoria.

Consigo ouvir, também, a seguinte afirmação - "Mas academicista é a pessoa que só se atém ao estudo, que fica idealizando situações inúteis e não tem nenhuma ação!" - Ora, estudar e repassar os frutos de seus estudos não é ação suficiente? Não acha que estudar temas de grande profundidade não fazem com que a pessoa fique, por vezes, exausta e imprestável para a agir?Para se por na "linha de frente"?

A cada dia que passa os temas, os problemas, se tornam mais complexos e, assim, exigem soluções igualmente complexas, alternativas complexas que exigem um esforço acadêmico cada vez mais complexo. Tornam-se cada vez mais comuns os avanços teóricos e práticos realizados por equipes, por grupos de estudiosos e não mais por cientistas singulares, por "gênios".

Assim, não se torna razoável a exigência de "ação" contundente para quem estuda com afinco um tal tema, exigir isto é ignorar a socialização dos frutos do estudo como ação de mudança da sociedade. Logicamente que só o ato de compartilhar os frutos não é suficiente para uma transformação social significativa, ela depende sim de outras ações associadas para surtir um efeito desejado.

Mas reflita no resultado de chamar uma pessoa que estuda com afinco um tema de "academicista" justamente com essa carga crítica e, também, pejorativa. Ela irá agir mais? Ou isso apenas irá cutucar seu ego deixando-a na defensiva e, por vezes, até fazendo-a se calar evitando a socialização dos frutos de seu estudo?

Antes da crítica, temos que analisar os efeitos da mesma, muitos que já estudaram muito voltam aos estudos por causa da crítica e outros muitos (a maioria ouso dizer) que começaram os estudos, desistem de estudar por causa de "criticas". Não estou dizendo que não se deve fazer críticas, mas sim da obvia diferença da crítica construtiva e da pejorativa (que deveria ser obvia, mas que pelo numero de criticas pejorativas que encontramos não parece).

Assim devemos nos policiar em nossas críticas, pois a escalada em direção à saída é árdua e todos nós somos prejudicados à cada pessoa que desiste.


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