segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

Primeiro Desejo - Segurança

"Temos de descobrir segurança dentro de nós próprios. Durante o curto espaço de tempo da nossa vida precisamos encontrar o nosso próprio critério de relações com a existência em que participamos tão transitoriamente." - Boris Pasternak
Antes de mais nada, deixo claro que não existe hierarquia entres essas raízes, portanto nenhuma é mais importante que a outra.

A primeira raiz de nossos desejos é a segurança. Essa que vem desde os primórdios da humanidade e ainda guia muitos dos nossos pensamentos direta ou indiretamente. 

Ela não está só presente diretamente nos nossos anseios de nos proteger fisicamente de danos externos, mas também em nossos anseios emocionais muito mais recorrentes em nossas vidas.

Não é necessário falar do desejo de segurança física, pois é muito simples. Falarei sobre nossa segurança emocional, que é um pouco mais complexa.

Nossa necessidade de segurança emocional surge pelo medo de uma gama extensa de fatores e esses riscos podem ser gerados por outras pessoas, pela nossa interação com a sociedade e até, por muitas vezes, de nós mesmos. Temos medo de que outras pessoas nos machuquem, seja de forma espontânea ou como reação à nossas ações ou de outra pessoa e quando ocorre uma lesão aos nossos sentimentos ou idéias, não raro nos fechamos, sendo que a intensidade de se fechar acaba definindo nossa maturidade, variando de se fechar em um casulo de desconfiança e medo até a ignorância quanto ao que se pode aprender com o cenário.

As ações danosas que acontecem de forma espontânea pelas pessoas é menos comum e, talvez, a menos danosa, pois, por muitas vezes, temos uma idéia do que esperar da pessoa em questão, mas a situação se torna complexa quando a ação danosa vem da interação social ou de nós mesmos.

A sociedade, como disse anteriormente, nos impõe uma gama extensa de comportamento e padrões de ações, sendo que muitos desses comportamento são logicamente justificáveis e outro, por vezes a maior parte, completamente irracionais e algumas vezes originalmente traiçoeiros. Muitos dos padrões irracionalmente impostos nos ferem quando opostos ao nosso ser original, à nossas caraterísticas individuais que não são danosas à ninguém e assim, com a ocorrência do dano, nos fechamos e assumimos posturar e comportamentos que não são nossos, assumimos as famosas máscaras para nos protegermos das críticas.

Apesar desta interação social já ser complexa, o cenário do dano à nossa integridade emocional e ideal feita por nós mesmos é ainda mais complexa. Pensamos inicialmente que os danos autoinfligidos vem diretamente de nós (como se olhássemos ao espelho e ofendêssemos o reflexo), mas refletirmos mais nesse ponto, podemos ver que nos machucamos muitas vezes pelo que fazemos ao próximo, seja pela culpa que sentimos, seja pelas ofensas proferidas que retornam.

Somos os autores de nossos próprios medos e somos responsáveis por nossa própria segurança. Não há terreno mais seguro do que a verdade, o fato. Admitir nossos erros, nossos defeitos, nossas falhas é doloroso, mas satisfaz muito bem nosso anseio pela segurança e nos faz amadurecer e encarar nossos problemas e os problemas que nos cercam de forma mais racional e eficaz.

Assim entramos em um aparente paradoxo, pois temos que machucar nosso ego, criticar nossa imagem questionando a origem dela, para que assim possamos evitar as dores que vem de nós mesmos. O paradoxo é aparente, pois o dano autoinfligido é análogo à cortar as unhas ou frequentar academia para ter uma saúde melhor.

A segurança é um desejo que deve ser obtido através de disciplina, pois devemos colocar em cheque nosso ser, sempre analisando nossas próprias características para , assim, alcançarmos a verdadeira segurança, ou segurança benéfica (afinal, assegurar um ego inflado é o mesmo alimentar um inimigo jurado em sua própria casa).

Em suma, sempre almejamos uma situação confortável e confiável para se evitar tensões, mas algumas tensões são necessárias para se evitar que algumas outras tensões se transformem em danos futuramente e, portanto, temos de ser disciplinados, racionais, sempre sopesando o conhecimento que adquirimos e, por fim, observarmos mais o que ocorre a nossa volta e com nós mesmos justamente para evitar as feridas que podem resultar de nossas ações.

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